Quem entra no escritório da Kodak, localizado na agitada rua Fidêncio Ramos, em São Paulo, logo sente uma nostalgia. Fotos gigantes dos filhos dos funcionários espalhadas por todos os lados. Na sala central, cada baia é identificada por uma fotografia da infância do dono do espaço. Apesar dos esforços e dos US$ 4 bilhões investidos para se tornar uma companhia digital, a empresa ainda mantém viva suas origens. Mas a impressão ainda é sua grande aposta. De cada 100 fotos tiradas com câmeras digitais, 14 são impressas. Em 2010, o número de impressões vai crescer 5%, fato que não ocorre há anos. "A Kodak tem o maior portfólio de comunicação gráfica do mundo", se orgulha Gilberto Farias, diretor-geral da Kodak do Brasil. Mas como convencer o consumidor a voltar ao tempo das fotografias estampadas em papel? "Apelando ao seu lado emocional", diz Emerson Stein, diretor-geral de vendas. "Com a captura digital, o valor sentimental da imagem se quebrou", complementa Farias, com um porta retrato digital em sua mesa.
Após registrar perdas contínuas com o avanço da fotografia digital, a Kodak foi obrigada a se reinventar. Entre 2003 e 2007, investiu bilhões na aquisição de empresas. Desse total, US$ 2,6 bilhões foram destinados ao grupo de comunicações gráficas. Hoje, a divisão representa 35% da receita total, de US$ 9,4 bilhões. Além de fabricar impressoras e papéis especializados, a empresa ainda oferece o serviço de terceirização de impressão. "A tendência desse mercado é cair. As pessoas estão substituindo o uso do papel para cortar custos", alerta o analista Ivair Rodrigues, da consulto- ROBERTA NAMOUR Kodak ria IT Data. É o caso do DDA, sistema que aposenta a emissão e envio de boletos para o pagamento de contas, implantado pelos bancos em outubro. Muitos consumidores preferem também guardar suas fotos em sites de compartilhamento de fotografia, como o Flickr, do Yahoo.
A crença no papel é tanta que até ex-funcionários admitem que a companhia está no caminho certo. É o caso do argentino Fernando Bautista, antecessor de Gilberto Farias na direção- geral no Brasil. "São negócios rentáveis e com escala, razões pelas quais acredito que o futuro da Kodak seja sustentável", afirma Bautista, que hoje é gerente-geral da Moisac, uma multinacional da indústria química. Para difundir a cultura da impressão, a empresa tem feito um trabalho de catequização do mercado. Centenas de quiosques da Kodak espalhados pelo Brasil procuram reaproximar o consumidor da velha prática da revelação. Em dezembro, uma campanha publicitária da companhia entra no ar com mensagens sentimentais. A empresa garante que o avanço dos equipamentos eletrônicos não representa nenhuma ameaça para seus planos. Nem o celular. A capacidade de definição de imagens dos telefones móveis está cada vez mais próxima das câmeras digitais. A Samsung lançou recentemente um aparelho com câmera de 12 megapixels, o que permite fazer uma ampliação de 50 x 60 cm com qualidade. "Quanto mais cliques, mais clientes em potencial para a impressão de fotos", afirma Stein. No ano passado, a Kodak fez uma parceria com a Motorola para lançar um celular em conjunto. Para aumentar o número de cliques e estimular a venda de câmeras digitais no País, a empresa encontrou uma fórmula para tornar os aparelhos mais acessíveis.
O Brasil é o único país fora a China a ter uma fábrica de câmeras digitais da companhia. A fabricação local permitiu à empresa trazer ao mercado câmeras de alta tecnologia com funções simples e preços baixos. Aparelhos de 8 megapixels custam R$ 399. "Sempre acreditamos no potencial do mercado brasileiro", diz Farias. "O retorno virá em serviços", acrescenta. Antes, porém, a Kodak terá de convencer o consumidor a voltar no tempo.
FONTE: http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/635/artigo157743-2.htm