Eduardo Muylaert - 12 julho 2009
A artista alemã Loretta Lux é uma das convidadas internacionais do 5º Paraty em Foco e Eduardo Muylaert irá entrevistá-la sobre o tema Inocência e Desconforto.
Confira aqui uma entrevista que Muylaert fez com Loretta para o blog do Paraty em Foco. É uma prévia de uma das convidadas mais esperadas do Festival.
1. Seu tema é realmente a infância e seu mistério, como escreveu Francine Prose ? Seu trabalho é relativo ao passado, presente e/ou futuro? (Francine Prose, no ensaio introdutório “Retratos Imaginários” , Loretta Lux, Aperture, 2005).
Meu tema é o desamparo do homem no mundo, o absurdo da existência humana. Crianças são um sub-tema. Meu trabalho se refere tanto ao passado como ao futuro; o presente é difícil de apreender. Você não consegue se encontrar no presente, embora muita gente vá nessa direção. Um ser humano se define através de suas experiências passadas e de seus objetivos para o futuro. Num criança você pode ver pistas do adulto que se tornará, e no adulto você vai encontrar traços da criança que ele costumava ser. As experiências da primeira infância formam uma pessoa mais do que qualquer outra coisa. Isso é o que a infância torna tão interessante para mim. Também, é ótimo trabalhar com crianças. Elas não tem expectativas prévias e não se preocupam com as aparências.
2. Se Velázques, ou Goya, ou Rubens, estivessem vivos, você supõe que eles se reconheceriam no seu trabalho?
Se eles estivessem vivos hoje, provavelmente fariam um trabalho diferente.
3. É verdade que seu estúdio é bem descomplicado, que você não usa muitos tipos de iluminação, que você acha que às vezes um pequeno toque é a técnica mais efetiva para o aperfeiçoamento digital do trabalho? Então, como você chega a uma tão sofisticada e mágica arte do retrato?
Sim, meu estúdio é realmente descomplicado. Nos primeiros anos, eu nem tinha iluminação de estúdio e só usava luz natural. Eu ainda acho que a luz natural é a mais bonita, mas nem sempre tenho paciência de esperar pela perfeita situação de luz. É por isso que uso luz artificial agora. Quanto ao trabalho digital, eu apenas levo bastante tempo. Vejo as imagem em progresso e comparo os diferentes estágios. Gosto de ter meu tempo e nunca corro com uma imagem. O motivo pelo qual muito da fotografia digital parece porcaria é porque freqüentemente é pesada, exagerada, e parece falsa a centenas de metros de distancia. Eu prefiro um trabalho sutil, bem pensado.
4. Philip Gefter (Photography after Franck, 2009) cita os “efeitos sobrenaturais” dos seus fundos. Jonathan Lipkin (Photography Reborn, 2005) situa seu trabalho no capítulo do “sublime tecnológico”, com sua “Dorothea, 2001” na capa do livro. Essas análises têm relação com as suas próprias percepções? Elas tem a ver com sua passagem da pintura para a fotografia? É uma passagem só de ida?
Sim, essas análises são excelentes. Estou muito satisfeita com elas. Passei da pintura para a fotografia porque não me dava bem com o processo físico da pintura, o manuseio dos materiais, tais como tinta, óleo e terebintina. Não é necessariamente uma passagem só de ida. Henry Cartier-Bresson deixou de fotografar aos 70 e voltou à pintura e desenho. Ele não teve o mesmo reconhecimento na pintura que teve nas suas fotografias, mas ele fazia o que queria fazer, e isso é o que conta. Pessoalmente, eu acharia difícil voltar para a pintura. O que eu gosto tão mais no meu atual processo de trabalho é que posso fazer dúzias de versões de uma imagem e salvar, comparar e retrabalhá-las como quiser. Com a pintura, não se pode retirar camadas e camadas de tinta tão facilmente. Pintura, em comparação, é complicada e bagunçada.
5. Michael Fried pergunta num livro recente “Porque a fotografia importa como arte como nunca antes?”(Yale, 2008). Você tem uma resposta para essa pergunta?
Eu não sei se ou porque a fotografia importa como arte como nunca antes; é só o titulo de um livro. Fotografia, com certeza, é largamente praticada e muito popular entre colecionadores. Fotografias são muito mais fáceis de produzir do que pinturas, mas é também mais difícil desenvolver seu próprio estilo como fotógrafo. Há uma imensa torrente de fotografias, especialmente as medíocres. Quanto a colecionar, fotografias são mais fáceis de cuidar do que pinturas ou esculturas. Elas requerem menos espaço, envelhecem melhor e normalmente são substituíveis. Também são reproduzidas melhor em livros e revistas.
6. O Time classificou você como um “fenômeno do mundo da arte”. Antes dos quarenta, seu trabalho já estava nos mais importantes museus e coleções, você tinha recebido os prêmios mais importantes e se tornado uma superstar no mercado da arte. Isso não é um pouco apavorante? Como você lida com a fama?
Estou encantada com o sucesso e honrada pelo fato de que tanta gente reage a e é capaz de se identificar com o trabalho. Na verdade comecei a fazer esse trabalho em 1999 quando encontrei meus marchands Yossi Milo e o hoje falecido Adriaan van der Have. Fico gratificada com o fato de que a reação ao meu trabalho tenha sido forte e positiva, e fico lisonjeada com os artigos e criticas nos Estados Unidos, America do Sul, Europa, Austrália, Nova Zelândia e nos outros lugares. Entretanto, meu objetivo não é o de agradar o público, mas o de fazer o trabalho de que gosto. Não crio trabalho especificamente para o mercado, mas principalmente para mim mesma.
7. Nós certamente vamos te mimar em Paraty. Por ora, você tem algumas impressões sobre o Brasil, sua natureza, seu povo, sua fotografia, seu mundo da arte?
Estou muito animada com a viagem ao Brasil. Já estive na Argentina e no Uruguai e gostei imensamente. Quero ver mais da America Latina. Imagino que o Brasil seja muito bonito.
Leia também o original da entrevista, em inglês: loretta lux
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